A Escola e a Autoridade
No Diário de Notícias de hoje, Diogo Pires Aurélio publica um texto sobre a falta de autoridade nas nossas escolas, numa linha muito próxima da que foi defendida pela investigadora Maria Filomena Mónica em entrevista que deu ao Expresso e da qual foi dada nota no post Dossier Educação – II.
Pelo seu interesse e actualidade, reproduzo aqui o artigo de Diogo Pires Aurélio, que tem o sugestivo título de A ordem e os infantes:
“Existe um certo pudor em pronunciar a palavra autoridade, mas ela vem irresistivelmente à memória de cada vez que se fala na situação actual das escolas. Perante os exemplos de barbárie que toda gente já deve ter ouvido contar aos professores, ou a forma desabrida como as salas de aula são tomadas de assalto por pequenos delinquentes e que as televisões, ainda há bem pouco tempo, voltaram a mostrar, não há ninguém de bom senso que não reclame uma lei, uma inspecção, uma esquadra ou um ministério que ponha cobro a isto. No entanto, apesar desse consenso mais ou menos tácito, a questão da disciplina nas escolas continua a ser uma espécie de dama que toda a gente corteja mas em que ninguém toca, a não ser, eventualmente, com a costumeira flor de estilo.
A autoridade tem má fama. Vulgarmente confundida com o poder autocrático, só por um acaso improvável ela permaneceria intacta em sociedades onde qualquer ordem é suspeita, enquanto não for previamente negociada e aceite por todos e cada um. A cultura em que estamos mergulhados e o que se aprende, inclusive, nas escolas já não reconhecem a autoridade como um valor. Levada ao limite das interpretações corriqueiras, a pulsão democrática ocasionaria mesmo o seu contrário, isto é, o não reconhecimento de nenhuma obrigação, a menos que haja força para a impor. Ruiu, por isso, a autoridade dos mais velhos, ruiu a autoridade da família. Imaginar que a escola poderá permanecer um oásis, no meio dessa devastação geral que assola o exercício da autoridade, é puro devaneio.
Acontece que a escola não funciona sem uma réstia, mínima que seja, de autoridade. O mestre precisa de possuir a autoridade que vem do saber, da experiência e da maturidade, razão pela qual convém que ele seja regularmente avaliado. Mas, só por si, isso não basta, se a lei e os costumes não lhe oferecerem os meios para fazer vingar tal autoridade, sempre que ela seja posta em causa. Não se pode exigir uma escola tranquila e rejeitar os seus custos.
De pouco adianta, a este propósito, aplaudir a coragem de alguns professores, que conseguem desenvencilhar-se, por mais hostil que o meio se apresente. É até perverso julgar que o problema se resolve com actos isolados de heroísmo, poupando os alunos e as suas famílias à evidência de que a escola, para ensinar o que quer que seja, tem de ter autoridade e dar-se ao respeito.”
Pelo seu interesse e actualidade, reproduzo aqui o artigo de Diogo Pires Aurélio, que tem o sugestivo título de A ordem e os infantes:
“Existe um certo pudor em pronunciar a palavra autoridade, mas ela vem irresistivelmente à memória de cada vez que se fala na situação actual das escolas. Perante os exemplos de barbárie que toda gente já deve ter ouvido contar aos professores, ou a forma desabrida como as salas de aula são tomadas de assalto por pequenos delinquentes e que as televisões, ainda há bem pouco tempo, voltaram a mostrar, não há ninguém de bom senso que não reclame uma lei, uma inspecção, uma esquadra ou um ministério que ponha cobro a isto. No entanto, apesar desse consenso mais ou menos tácito, a questão da disciplina nas escolas continua a ser uma espécie de dama que toda a gente corteja mas em que ninguém toca, a não ser, eventualmente, com a costumeira flor de estilo.
A autoridade tem má fama. Vulgarmente confundida com o poder autocrático, só por um acaso improvável ela permaneceria intacta em sociedades onde qualquer ordem é suspeita, enquanto não for previamente negociada e aceite por todos e cada um. A cultura em que estamos mergulhados e o que se aprende, inclusive, nas escolas já não reconhecem a autoridade como um valor. Levada ao limite das interpretações corriqueiras, a pulsão democrática ocasionaria mesmo o seu contrário, isto é, o não reconhecimento de nenhuma obrigação, a menos que haja força para a impor. Ruiu, por isso, a autoridade dos mais velhos, ruiu a autoridade da família. Imaginar que a escola poderá permanecer um oásis, no meio dessa devastação geral que assola o exercício da autoridade, é puro devaneio.
Acontece que a escola não funciona sem uma réstia, mínima que seja, de autoridade. O mestre precisa de possuir a autoridade que vem do saber, da experiência e da maturidade, razão pela qual convém que ele seja regularmente avaliado. Mas, só por si, isso não basta, se a lei e os costumes não lhe oferecerem os meios para fazer vingar tal autoridade, sempre que ela seja posta em causa. Não se pode exigir uma escola tranquila e rejeitar os seus custos.
De pouco adianta, a este propósito, aplaudir a coragem de alguns professores, que conseguem desenvencilhar-se, por mais hostil que o meio se apresente. É até perverso julgar que o problema se resolve com actos isolados de heroísmo, poupando os alunos e as suas famílias à evidência de que a escola, para ensinar o que quer que seja, tem de ter autoridade e dar-se ao respeito.”
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