DISCURSO DIRECTO

26 julho, 2006

Ave Caesar!

As obras de Allan Massie sobre Júlio César e Marco António – que desde já recomendo – são uma interessante análise sobre a conquista e o exercício do poder político naquele período histórico do Império Romano, em particular após o assassinato de Júlio César.

Como se sabe, Júlio César foi assassinado no auge da sua carreira política e militar, através de uma conspiração que reuniu os seus inimigos de sempre e alguns dos seus apoiantes mais próximos, como Gaio Cássio e Marco Bruto.

O objectivo essencial dos conspiradores – depois chamados de “Libertadores” – foi o de restaurar a República Romana, terminar o “governo de um só homem” e substituir Júlio César na condução dos negócios da Res publica.

Como é óbvio, existiram outras razões (bem menos nobres) que conduziram ao assassinato de Júlio César, tanto mais que este preparava todo um conjunto de reformas políticas, sociais e administrativas que iriam afrontar o poder das várias famílias nobres e seus senadores.

E conseguiram os Libertadores alcançar os seus objectivos? Não.

De facto, o mais fácil foi assassinar Júlio César. Quanto ao resto, a conspiração foi um insucesso a toda a linha.

Os conspiradores não se tinham preparado para conquistar e exercer o poder. Acreditaram que a simples morte de César iria restaurar a República e colocá-los no centro do poder político. Ora, a História demonstrou exactamente o contrário. O poder nunca caiu nas mãos dos Libertadores. Primeiro foi Marco António que tomou as rédeas do poder, depois foi o triunvirato constituído por Marco António, Octávio Augusto e Marco Lépido e, por fim, foi a ascensão de Octávio Augusto.

Ou seja, a morte de Júlio César não conduziu a um novo impulso da República Romana, mas conduziu à proscrição e morte dos Libertadores (decidida pelo triunvirato), bem como ao poder absoluto do herdeiro político de Júlio César – Octávio Augusto.

Quem diria?

2 Comments:

  • Vejamos:
    1. Júlio César foi morto pela sua própria sobranceria: ele estava avisado e não se resguardou. Acontece a todos, só que nuns casos é terminal.
    2. O que aconteceu a seguir é o mesmo que acontece quando, a qualquer golpe bem sucedido não existe correspondente plano de exercício de poder. Ao contrário do que se possa julgar à primeira olhadela, a maioria dos golpes são assim. Só para exemplo, ficam dois: no 28 de Maio ninguém pensava em entregar o poder ao António de Oliveira, que o veio a receber e o transformou (legitimando-o por referendo à Constituição)em seu; no 25 de Abril, conforme resulta de toda a confusão que se seguiu, também os golpistas não tinham devidamente preparado o "dia seguinte". O supra-sumo é obviamente a REvolução Francesa. Em conclusão: destruir é fácil; construir requer tempo, paciência, persistência e uma verdadeira noção de projecto e meios.
    3. Historicamente, no caso da República Romana, o fulcro do problema não é César. A República expandiu-se mais do que podia sem se reformar adequadamente e atingiu um ponto crítico: desde as Guerras Púnicas, a tentação autocrática, o reformismo e a aristocracia conservadora colocavam o poder sempre à beira da ruptura. César tentou, Augusto conseguiu.
    4. Infelizmente, as razões "menos nobres" assistem a todos. Mesmo quando o poder é exercido de forma autocrática, nunca é exercido totalmente pelo autocrata, o qual tem sempre que delegar. Sila delegou num escravo que quis enriquecer com as prescrições; César delegou em Marco António, que se passeava por Roma num carro puxado por leões enquanto o ditador não regressava do seu idílio egípcio... Enfim, são normalmente os delegados do poder que lhe dão mau nome (quando não são os próprios degenerados que o detêm)! Resumindo e concluindo, não há quem tenha um grupo de puros, sem "razões menos nobres".
    6. Mais do que aquilo que os conspiradores acreditavam, a dinãmica inexorável da realidade histórica frustrava os seus intentos: desde os tempos de Mário e Sila, o poder começara a jogar-se pela força dos exércitos e não pela força da palavra no Forum ou no Senado. A morte de César é tão-só o adiar da morte de uma moribunda república aristocrática. Sempre recusando o cargo, mas com a espada de Damocles sobre a cabeça dos senadores, Octávio conduziu-os pela política aonde César não os levara pela espada.
    7. Tudo isto nos conduz a uma conclusão irónica: a República não morreu dum golpe militar de um dos muitos "imperadores" que o tentaram (Mário, Sila, Pompeu, César ou António, só para referir os principais), mas de um golpe político de imberbe que, ao chegar à cena, não passava de um "teenager"! O rapaz foi genial...
    8. (para além do texto, também por causa do comentário anterior) Sendo verdade que por vezes a história parece repetir-se, ela de facto nunca se repete da mesma exacta maneira.

    By Anonymous Anónimo, at 26/7/06 17:11  

  • Ah!, e já agora sobre as obras surgidas nos últimos tempos sobre a malta em questão: há uns revisionistas históricos que teimam em divulgar tipos como Cipião, César, Octávio e, até por vezes, António como maricas. Porque será? Porque o revisionimo histórico procura sempre legitimar os grupos que estão ou querem ascender?

    By Anonymous Anónimo, at 26/7/06 17:16  

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