DISCURSO DIRECTO

03 junho, 2006

A Crise da GM

A fábrica da GM em Azambuja, fundada em 1963, pode ser encerrada até ao fim do ano em curso. A confirmar-se esta intenção, os impactos na economia local e nacional serão enormes. Cerca de 1100 agregados familiares de Azambuja e de outros municípios contíguos terão no seu seio, pelo menos, um desempregado. As receitas da Câmara de Azambuja irão diminuir, o que vai adiar obras importantes para a qualidade de vida da população. O país também perde, porque teremos menos uma unidade industrial a fabricar e a exportar, com todas as consequências que daí advirão para a balança de transacções e para os índices da tão desejada retoma económica.

Para fundamentar o encerramento e a consequente transferência da produção do Combo para a fábrica de Zaragoça, a GM tornou público um estudo interno que identifica uma alegada desvantagem de 500 euros na produção de cada veículo na fábrica de Azambuja, face a outros locais da Europa.

Ou seja, aparentemente, o problema da fábrica é a falta de produtividade dos seus trabalhadores e o nível das suas remunerações.

Quanto à falta de produtividade, o argumento tem de necessariamente cair por terra. Ano após ano, os trabalhadores da GM de Azambuja têm demonstrado que são dos mais produtivos da estrutura mundial da General Motors. E como tal têm sido referenciados nos mais diversos estudos da GM. Acresce que, a acompanhar esta força de trabalho, a GM investiu 2,7 milhões de euros, entre 2002/2003, na melhoria dos processos de produção que permitiram incrementar a eficiência e aumentar a capacidade de produção na fábrica de Azambuja.

Será então por causa dos salários dos trabalhadores que a fábrica de Azambuja alegadamente perdeu competitividade? Também este argumento não pode proceder. Como já se disse, o encerramento da unidade de Azambuja pode implicar a transferência da produção do Combo para Zaragoça. Ora, os salários da unidade portuguesa são, em média, 40% mais baixos do que os da espanhola.

Então como se justifica a desvantagem dos 500 euros na produção de cada veículo na fábrica de Azambuja?

A falta de competitividade desta unidade não é por culpa dos trabalhadores, nem da sua organização interna. A falta de competitividade resulta de factores exteriores à fábrica de Azambuja.

Temos a energia e os combustíveis caros face a outros locais da Europa. O nosso IRC é dos mais elevados da Europa comunitária. O IVA é elevadíssimo. Estes custos também contam, e muito, para que exista a tal desvantagem dos 500 euros.

O Ministro da Economia, que gosta muito de anunciar novos investimentos para Portugal, tem agora de agir quanto à questão da fábrica de Azambuja. Tem de negociar com a GM. Mas, que o acordo não se faça à custa dos trabalhadores e dos seus salários. Que o acordo se faça com base numa nova política económica e energética, que torne a GM de Azambuja e Portugal mais competitivos.


 
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